Após uma campanha de intensa
polarização no segundo turno, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita neste domingo
(26) e impediu a virada do senador mineiroAécio Neves, candidato do PSDB -
nunca um candidato que ficou em segundo lugar no primeiro turno foi eleito
presidente do Brasil.
Por volta da 20h30, com 98% das urnas apuradas, Dilma tinha 51,45% dos
votos e Aécio, 48,55%. A diferença de votos era de 3 milhões. Essa foi a menor
diferença de votos em um segundo turno desde a redemocratização.
Antes disso, a disputa mais apertada foi em 1989, quando Fernando Collor
de Mello (então no PRN) venceu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por 4 milhões de
votos. Na época, Collor teve 53,03% contra 46,97% de Lula.
Nas outras eleições presidenciais decididas em duas etapas, a diferença
entre o vencedor e o segundo colocado foi maior. Em 2002, Lula teve 19,4
milhões de votos a mais do que José Serra (PSDB). Quatro anos depois, Lula foi
reeleito com uma margem ainda maior: 20,7 milhões de votos a mais do que
Geraldo Alckmin (PSDB). Já na última eleição, a diferença voltou a se
estreitar, e Dilma bateu Serra por 12 milhões de votos.
Com a vitória, o Partido dos Trabalhadores vai para o quarto mandato
seguido e deverá completar 16 anos à frente do governo federal.
Primeira
mulher a presidir o país, a petista liderou a votação no primeiro turno, mas
passou a maior parte da campanha do segundo turno em situação de empate técnico
com Aécio nas pesquisas de intenção de voto.
É a quarta derrota seguida que o PT
impõe aos tucanos nas eleições presidenciais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
Dilma venceram José Serra – duas vezes -- e Geraldo Alckmin nas eleições
de 2002, 2006 e 2010.
Com Dilma, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) também foi
reeleito. Os dois tomarão posse do novo mandato em 1º de janeiro de 2015.
Dilma Rousseff
·
Partido: PT
·
Nascimento: 14/12/1947, em Belo Horizonte (MG)
·
Ocupação: Presidente da República
·
Vice: Michel Temer (PMDB)
·
Coligação: Com a força do povo (PT / PMDB / PSD /
PP / PR / PROS / PDT / PC do B / PRB)
Trajetória
Nascida em Belo Horizonte (MG) em 14
de dezembro de 1947, Dilma tem 66 anos, é divorciada, tem uma filha e um neto.
Durante a ditadura militar (1964-1985),
integrou organizações como a VAR-Palmares, que defendia a luta armada. Ficou presa entre 1970 e 1972 e foi torturada.
Depois de solta, mudou-se para Porto Alegre com o companheiro Carlos
Araújo e formou-se em ciências econômicas na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Iniciou o mestrado em economia na Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), mas não concluiu.
No período final da ditadura, ajudou
a fundar o PDT no Rio
Grande do Sul. Trabalhou na Fundação de Economia e
Estatística, na Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara Municipal da
capital gaúcha.
Nos anos 80, foi secretária da
Fazenda da Prefeitura de Porto Alegre. Na década seguinte, atuou como
secretária de Minas e Energia do governo gaúcho. Filiou-se ao PT em 2001 e
integrou o governo Lula desde o início,
em 2003. Foi ministra de Minas e Energia e, depois, ministra-chefe da
Casa Civil.
Indicada por Lula, disputou sua
primeira eleição em 2010 e já como candidata a presidente. Foi ao segundo turno
contra José Serra (PSDB) e, com 55,7 milhões de votos, tornou-se a primeira mulher eleita presidente na história do país.
Tomou posse em 1º de janeiro de 2011 e
teve altos índices de aprovação nos primeiros anos de gestão. Em março de 2013,
a aprovação ao modo de governar
da presidente atingiu o recorde de 79%, de acordo com pesquisa CNI/Ibope.
Entre as realizações de seu primeiro
mandato, estão o programa Mais Médicos, o Pronatec
(Programa Nacional Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), a expansão
do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e investimentos em obras de
infraestrutura e mobilidade. Em setembro, o governo comemorou aexclusão do país do Mapa da Fome da ONU (Organização
das Nações Unidas).
Protestos,
denúncias e problemas na economia
A avaliação do governo piorou após os protestos de junho de 2013, mas os
levantamentos continuaram a apontar o favoritismo de Dilma na disputa
eleitoral.
A petista passou o ano de 2014
enfrentando denúncias relacionadas à Petrobras,
envolvendo o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia
Federal. Ele é suspeito de operar um esquema de desvio de recursos da estatal,
com o envolvimento de políticos e partidos.
A presidente também enfrentou
críticas em relação à condução da política econômica. O PIB (Produto Interno
Bruto) do país teve um crescimento médio de 2% por ano entre 2011 e 2013,
o nível mais baixo desde o governo Collor. Nos dois
primeiros trimestres de 2014, os resultados do indicador foram negativos, o que
deixou o país em uma recessão técnica.
A inflação acumulada nos últimos 12 meses ficou
acima do limite máximo da meta do governo, que é de 6,5%. Dilma atribuiu os
problemas à crise econômica internacional e afirmou que a condução da política
economia teve o mérito de preservar o nível de emprego no país.
Campanha tensa
Durante a campanha do primeiro turno,
as pesquisas de intenção de voto chegaram a
apontar uma ameaça ao favoritismo de Dilma para conseguir a reeleição. Isso
aconteceu entre o fim de agosto e o começo de setembro, quando a ex-senadora Marina Silva foi oficializada
como candidata a presidente pelo PSB, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Quando Marina cresceu nas pesquisas, a campanha petista procurou
desgastar a imagem da candidata do PSB. A estratégia surtiu efeitos nos dois
momentos, com o aumento da rejeição aos nomes da ex-senadora e do tucano.
Marina e outros candidatos derrotados
no primeiro turno, como Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV), Levy Fidelix (PRTB) e José Maria Eymael (PSDC),
preferiram apoiar Aécio na reta final.
Dilma não obteve o apoio formal de
partidos de fora de sua coligação, mas conseguiu atrair o ex-presidente do PSB Roberto Amaral. Apesar das
dificuldades, a aprovação a seu governo voltou a crescer ao longo da campanha
eleitoral.
No segundo turno, com o eleitorado
dividido, os primeiros encontros entre Dilma e Aécio nos debates presidenciais
foram marcados por muita tensão, com discussões agressivas sobre casos de
corrupção. Enquanto o senador mineiro citava adenúncia de desvio de recursos da Petrobras,
a presidente apontava casos envolvendo o PSDB, como o mensalão tucano; o fato de o governo mineiro ter construído um aeroporto dentro da
fazenda de Múcio Tolentino, tio de Aécio; eacusações de nepotismo.
Ao fim do encontro promovido pelo UOL, pelo SBT e pela rádio Jovem Pan,
no último dia 16, a presidente admitiu que o debate havia sido
"renhido" e chegou a passar mal quando concedia uma entrevista.
Desafios
Um primeiro desafio para Dilma é como
lidar com um país dividido. Esta foi a eleição presidencial mais disputada
desde 1989. O tom elevado das duas campanhas, especialmente na reta final, pode
fazer com que o diálogo entre a presidente eleita e a oposição fique mais
difícil. Para Josias de Souza, blogueiro do UOL, a disputa
deixou "um rastro pegajoso de rancor e incompreensões; na
oposição, PT ou PSDB tendem a elevar o tom".
Alguns dos temas abordados com mais
veemência nesta eleição não acabaram com a votação de hoje, como a corrupção na
Petrobras. As investigações devem avançar em 2015 e podem abalar o PT e
partidos da base aliada. No último dia 18, Dilma admitiu que houve desvios de
recursos na estatal e prometeu buscar o ressarcimento dos cofres públicos.
Dilma precisará de um novo ministro
da Fazenda, que terá o desafio de reaquecer a economia e combater a inflação,
sem elevar a taxa de desemprego. Durante a disputa eleitoral, a presidente
afirmou que o ministro Guido Mantega não continuará no cargo. O
ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, deve permanecer como figura
influente no governo.
Entre as propostas que Dilma apresentou durante a campanha, está a
criação de uma Academia Nacional de Segurança Pública para a formação de
policiais. O programa de governo prevê o fortalecimento do controle de
fronteiras e de ações de combate a organizações criminosas e à lavagem de
dinheiro.
Para levar adiante as medidas propostas, é importante ter maioria no
Congresso. A aprovação de projetos de lei depende de maioria simples, ou seja,
precisa contar com o apoio de 257 deputados e de 41 senadores. Para promover
mudanças na Constituição, são necessários 308 votos na Câmara e 49 no Senado.
A coligação de Dilma -- formada por PT, PMDB, PSD, PP, PR, PRB, PDT,
PROS e PC do B -- elegeu 304 deputados federais e 51 senadores. Ou seja, em
tese, ela tem maioria no Congresso, mas precisa evitar deserções de
parlamentares da base e conseguir mais alguns votos na Câmara caso pretenda
fazer alterações na Constituição.
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