A nova gestão municipal que iniciará em 2021
precisa cuidar essencialmente da HUMANIZAÇÃO DA CIDADE. Como isso se traduziria
em termos da compreensão cidadã?
De
logo, os candidatos que se dispõem a essa complexa tarefa deveriam fazer uma
releitura dos Planos de Desenvolvimento Urbano de São Luís, iniciando pelo elaborado por Palmério Cantanhede, no início do
século XX, seguido da apreciação dos planos de Ruy Mesquita e Haroldo Tavares,
por serem considerados exemplos históricos relevantes. Este exercício deverá
estar ligado à apreciação contemporânea das experiências bem sucedidas pelo
mundo afora, como, por exemplo: 1 - da
cidade de Medellín, Colômbia, antes associada ao cartel de drogas e a mais
violenta do planeta e, após ter vencido o crime, considerada uma das melhores
cidades do mundo para se viver, vista também como a Cidade da Inovação; 2
- da Vila Arco-Íris, da Comunidade
Kampung Pelangi, na Indonésia. Tratava-se de uma favela degradada, com todos os
problemas inerentes de exclusão social e econômica, e hoje visita por milhares
e milhares de pessoas atraídas pela beleza das cores vibrantes das casas, dos
telhados, dos becos com seus desenhos multicoloridos dando vida ao lugarejo.
O
resultado de tanta cor foi a atração de milhares de turistas, melhoramento da
economia local, com famílias saindo da miséria; 3 - a aplicação da Teoria das Janelas Partidas - cujo conceito é o de que se uma janela de um edifício
for quebrada e logo não receber reparo, a tendência é que passem a arremessar
pedras nas outras janelas - aplicadas no
metrô de Nova York, anteriormente lugar perigoso de transgressões de toda
natureza; que posteriormente impulsionou a política que conhecemos como
“Tolerância Zero” originalmente concebida para criar comunidades limpas e ordenadas,
não permitindo transgressões à lei e às normas de convivência urbana. Embora
tenha depois tomado rumos diferentes, a tolerância zero colocou Nova York na
lista das cidades seguras.
Relativamente ao conceito de HUMANIZAÇÃO DAS
CIDADES, voltado para uma série de práticas eficientes de melhoria da qualidade
de vida da população, desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente,
existem experiências interessantes:
No
Brasil: João Pessoa - destaque na proteção de áreas ambientais; Extrema (Minas
Gerais) - preservação de áreas protegidas e conservação das águas; Curitiba -
planejamento urbano voltado para a sustentabilidade; Santana do Parnaíba
(região metropolitana de SP) - cooperativa de catadores; Londrina - eficiente
programa de coleta seletiva do lixo.
No Mundo: Barcelona
(Espanha) - mobilidade urbana e grande uso de energia solar; Copenhague (Dinamarca) - excelente na
infraestrutura para o uso de bicicletas;
Freiburg (Alemanha) - programas
eficientes voltados para o uso racional de veículos automotores; Amsterdã (Holanda) - mobilidade urbana; Viena (Áustria) - prioridade para a compra de
produtos ecológicos por parte da prefeitura;
Zaragoza (Espanha) - sistema eficiente voltado para a economia de
água; Thisted (Dinamarca) - 100% de uso
de energia sustentável.
São
Luís precisa construir uma Nova Agenda cujo eixo principal deve ser o de sua
HUMANIZAÇÃO. É inadiável a criação de estratégias que levem ao fortalecimento
da economia da cidade e à ampliação da qualidade de vida da população. Nesse contexto, é urgente um olhar preciso
sobre o descuido proposital da urbanização empresarial, que gerou as periferias
insurgentes como resposta à desordem institucional.
A
propósito, recentemente a Prefeitura encaminhou à Câmara de Vereadores um novo
projeto de Plano Diretor, que sofreu a influência perniciosa do Sindicato da
Construção Civil para permitir construções em áreas de dunas, sob o olhar
permissivo dos gestores municipais. Os vereadores têm a palavra final: ou se
ajoelham à brutalidade da urbanização industrial e excludente, ou se agigantam
como defensores da cidadania.
Cuidar
do ser humano deve ser a preocupação central da NOVA AGENDA, pois viver é
relacionar-se com o outro. Como falam
Bernardo Toro e Leonardo Boff: o cuidado constitui a categoria central do novo
paradigma de civilização que trata de emergir em todo o mundo. Saber cuidar,
num modo de viver em que todos ganham, com acesso solidário ao alimento. “Saber
cuidar se constitui na aprendizagem fundamental dentro dos desafios de
sobrevivência da espécie, porque o cuidado não é uma opção: os seres humanos
aprendemos a cuidar ou perecemos”.
Nossa
“qualidade de vida” não pode depender de guetos protegidos por muralhas,
alarmes e exércitos privados. Por isso devemos voltar a olhar o espaço público
como o coração da vida moderna; seu projeto, seu uso, sua gestão e novas
funções. Repensar a rua, a praça, o parque, a arborização e a paisagem urbana,
aquela que nos permita humanizar o espaço público e experimentar o encontro, o
intercâmbio e a diversidade.
Nos
tempos de hoje, é unânime a convicção de que São Luís precisa de uma Nova
Agenda de Desenvolvimento, que concilie, finalmente, as dimensões políticas,
econômicas e sociais, convergindo em favor da inclusão, do urbanismo com
equidade de acessos e do desenvolvimento sustentável, espécie de Pacto Político
de forças convergentes com o melhor interesse da cidadania.
Por: Aziz Santos
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